sábado, 30 de janeiro de 2010

Sistemas Estruturais- diálogos imaturos com Strauss





Faz um tempo que estou devendo um texto aqui. Na verdade já houve um acúmulo de temas a serem escritos. Ainda em tempo, vamos a um deles: "sistemas estruturais”.


Seja nas línguas, seja na Filosofia ou na Química- minhas fontes de estudo e reflexão- sempre pauto-me, busco ou balizo-me sobre dois conceitos ou noções pelos quais penso raciocinar melhor e penso que sejam o estofo do real em qualquer plano. De forma mais ampla, acredito que na natureza haja diferentes sistemas que são a base da constituição de nosso universo. Sem excluir o biológico e o humano desse plano, mas guardando as devidas restrições do funcionamento de cada esfera, ainda sim pensar em sistemas é pensar na própria organização do real.

No entanto, sistemas têm um funcionamento interno e de relação com outros sistemas. Esse funcionamento, não o entendo como simples parte do sistema, mas como uma estrutura que seria como a ‘alma do sistema”. Provisoriamente falando, uma vez que ainda estou em processo de amadurecimento dessas relações, seria o que alguns sistemistas ou estruturalistas definem como forma e conteúdo. Ainda incomoda-me fazer essa analogia, mas é o que tenho no momento. Sinto-me cada vez mais tendido a esses conceitos e a empreender a construção de uma teoria com base nisso. No entanto, há grandes problemas. Sistemas e estruturas são conceitos que apresentam um passado dentro de movimentos teóricos e de disciplinas. Venho estudando e fazendo análises no plano do terreno das humanidades e das ciências para averiguar melhor e elucidar essas questões, mas vi nos últimos meses que isso é o trabalho de uma vida toda.

Tomei então, de um ano para cá, a decisão de analisar a fundo e buscar uma teoria dos sistemas estruturais. Já tenho alguns exemplos, algumas leituras e desmistifiquei alguns pontos sobre estruturas e sistemas que pensava estarem claros em minha mente. Um exemplo que vou colocar aqui, dos vários que já venho acumulando como material de pesquisa. Refiro-me ao conceito de estrutura nas obras de Lévis-Strauss. Andei retomando algumas leituras e me iniciando em outras na obra desse brilhante antropólogo e percebi algumas coisas. Primeiro, o conceito de estrutura que ele propõe é muito parecido com alguns conceitos de sistemas. Segundo, ele bem analisa que em etnologia, por exemplo- pensando o exemplo como caso de sistemas humanos- há que se pensar, haja vista o tamanho da complexidade da cultura, as estruturas humanas (sociais) como esferas próprias de constituição de estruturas e não como simples continuações de estruturas biológicas ou físicas. Terceiro, na própria evolução do estruturalismo, há diferentes utilizações para o conceito de estrutura.

Pergunto-me se o movimento estruturalista e mesmo os movimentos posteriores a este compreenderam o profundidade sistêmica contida nas formulações de Lévi-Strauss sobre a estrutura? Será que o estruturalismo de um Bourdieu toma a compreensão da profundidade dos aspectos sistêmicos do que Lévis-Strauss propôs. Cabe perguntar também se quando Levis-Strauss propôs categorias universais das sociaedades humanas não perdeu também um pouco do sistemismo original de seu conceito de estrutura?

Quando chega-se a um conceito elucidativo como fez Lévis-Strauss, é preciso cuidado ao generalizá-lo a categorias universais. Uma tradição kantiana justificaria essas universalidades, mas não me parece ser o caso do autor em questão. Parece-me sim que ele comete o mesmo equívoco de Bergson com seu elan vital. Bergson elucida muito da criatividade do espírito humano e da evolução da mecânica biológica com esse conceito, mas em certo ponto universaliza demais o mesmo e perde a noção de que existem alguns paralelismos entre o espírito e o aparelho biológico.

Lévis-Strauss conseguiu com o conceito de estrutura e com sua Antropologia Estrutural avançar muitos pontos do estudo de sistemas humanos. Percebeu muito do que era padrão e muito do que era superficialmente mutável nas relações humanas nesses padrões. Foi muito feliz em perceber uma história cumulativa das culturas humanas e diminuir as diferenças entre o dito pensamento selvagem e o pensamento civilizado. Talvez sua ‘falha’ e dos seus sucessores tenha sido enrijecer demais o conceito de estrutura, não olhando a estrutura como sistema de um metassistema, mas como ‘mônada leibniziana’.

Eu penso um pouco diferente disso. Entendo que o sistema é mais ou menos linear, mais ou menos mecânico. Ele tem em si uma estrutura que é a base do movimento, da existência do sistema. Mesmo um sistema pode ser a parte constituinte de uma estrutura de um sistema maior, um metassistema. Preciso escrever mais para sistematizar essas idéias, mas no momento preciso com ainda mais urgência de estudos e observações sobre as teorias e sobre os sistemas e estruturas em si. Como é o estudo de uma vida e vai demandar muitas obras para cada ponto, vamos com calma. Muito fecundo esse diálogo com Strauss.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Conceitos básicos sobre o átomo




O vídeo a seguir dá uma boa explicação sobre o átomo.



Fernando.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Merleau-Ponty e o pensamento de sobrevoo





Merleau-Ponty e o pensamento de sobrevoo




Apresentar o pensamento de Merleau-Ponty é uma tarefa complexa, porque complexa é sua escrita.Uma obra embebida em pontos de vista advindos das artes, de sistemas filosóficos, das ciências humanas etc. Por este fato, vamos nesse curto espaço, pautar a análise somente em um dos pontos centrais de sua fenomenologia: o pensamento de sobrevoo.

O pensamento de sobrevoo na obra de Merleau-Ponty trata em sentido lato de uma crítica ao dito pensamento científico moderno. Segundo a fenomenologia de Merleau-Ponty, o pensamento de sobrevoo é o pensamento que apenas quantifica e analisa o Ser em suas partes mais superficiais. Um pensamento fenomenológico que empreenda uma análise mais profunda do Ser precisa ligar o pensamento cientificista (empírico-analítico) a uma metafísica renovada. Essa metafísica renovada pretende que o Ser não seja abstraído somente em seus aspectos físicos, mas que coloque o Ser dentro de uma compreensão dos fenômenos sensíveis. Não se trata mais de uma metafísica ideal que leia metodicamente o Ser em suas abstrações pormenores. Trata-se sim de trazer ao humano o casamento de suas sensibilidades com seus aspectos físico-fisiológicos para utilizar a linguagem de Merleau-Ponty.

O divórcio entre o pensamento filosófico e o científico trazido pelo cartesianismo faz com que percamos a noção do real. O pensamento filosófico sem os dados verificados do real se transforma em mera especulação tola e o pensamento científico sem a reflexão em mera formalidade sem conteúdo. Essa separação é prejudicial aos dois pólos. O pensamento de sobrevoo da ciência acaba por dizer pouco sobre o homem e o mesmo também ocorre na filosofia quando se perde no humanismo tolo no qual o sujeito é um espectro sem raízes físicas. Merleau-Ponty propõe uma fenomenologia que alie o sensível da corporiedade ao mundo psíquico para uma maior interação do homem no espaço de sua existência. A consciência do mundo sensível e do corpo traz uma maior compreensão dos fenômenos. A este autor precisamos então de uma dupla religação: a dos pensamentos reflexivo-especulativo com o empírico-analítico e de uma religação do mundo sensível e da corporiedade.

A nós parece uma proposta interessante, mas que encontra sérias dificuldades. Primeiro pelos casamentos pretendidos. Reconciliar os campos pretendidos é tarefa epistemológica séria. Algumas correntes vêm tentando propor essa reconciliação como a complexidade. Mas ainda há muito o que se evoluir nos circuitos lógicos de entendimento do que seja filosofia e do que seja ciência para que isso ocorra. A separação do homem, da natureza, da filosofia, da ciência etc ainda é muito grande. E depois da religação há que se pensar no tempo de amadurecimento e se repensar novas formas de dar a cada campo seu espaço. A segunda dificuldade reside, no caso particular de Merleau-Ponty, na própria fenomenologia. Esse campo ainda é pouco maduro em reflexões para ser uma filosofia reconciliadora de tudo o que o autor propõe. Como pensar, por exemplo, uma unicidade de Sartre, Merleau-Ponty e Hurssel? A própria evolução histórica do campo fenomenológico se mostra incompatível a isso. O alerta de Merleau-Ponty é válido, mas ainda precisamos de um amadurecimento histórico para suas proposições.